Arquivo para download: O niilismo como doença da vontade humana, por Clademir Araldi
"Mais do que um fenômeno histórico, o niilismo é a doença da vontade humana. Essa doença da vontade teria origens em certas morais da tradição, principalmente a moral cristã”, afirma o filósofo Clademir Araldi em entrevista por e-mail à IHU On-Line. De acordo com ele, na condição de “doença da vontade, o niilismo se alastra em todos os âmbitos da existência humana”. O diagnóstico do niilismo é feito de forma contundente pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que enfatizou que a crise de valores niilista atingiu não apenas os ateus, mas alcançou uma escala planetária. O homem hipermoderno substitui a autoridade divina pela História, pela tecnociência, a razão e o progresso. Iludido de que é livre em função das possibilidades que a sociedade de consumo oferece, esse homem tem no individualismo o cerne de suas relações sociais, “apesar de um discurso vago e propagado de solidariedade, numa era de democracia digital”. Sobre os sintomas do niilismo em nossa sociedade, Araldi acentua: “A pouca confiança das pessoas nas instituições sociais, a restrição sempre maior dos espaços de práticas sociais solidárias, vinculativas e a preocupação egoísta estreita com os simulacros de si mesmo expressam o vazio niilista de nossa sociedade”. A tarefa de Nietzsche é a construção “de uma nova nobreza no auge da modernidade, dominada pelos valores niilistas”, mas ele é muito mais coerente no diagnóstico desse vazio existencial do que na proposição de soluções afirmativas, pontua Araldi. Analisando a política atual sob a ótica do diagnóstico nietzschiano, o pesquisador frisa que o projeto político da modernidade está, sim, esgotado, uma vez que se apoia “em valores de uma moral que perdeu seu sentido”. Contudo, radicalizar o niilismo é a única forma de superá-lo. “A dificuldade está em apreender o espírito de aniquilamento”.
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