Na Web: Praias de imanência, por Gilles Deleuze

 

Há inúmeras descrições do "universo escalonado", que corresponde a toda uma tradição platônica, neoplatônica e medieval. Trata-se de um universo suspenso ao Uno como princípio transcendente, e que opera por uma série de emanações e conversões hierárquicas. Nele, o Ser é ambíguo ou analógico. Os seres, de fato, têm mais ou menos ser, mais ou menos realidade, de acordo com sua distância ou sua proximidade em relação ao princípio. Ao mesmo tempo, porém, uma outra inspiração atravessa o cosmos. É como se praias de imanência avançassem pelos estágios ou degraus, com a tendência de reunirem-se entre os níveis. Ali o Ser é unívoco, igual: os seres são igualmente ser, no sentido de que cada um efetua sua própria potência numa vizinhança imediata, por força da causa primeira. Não há mais causa remota: o rochedo, o lírio, a besta e o homem cantam igualmente a glória de Deus numa espécie de an-arquia consagrada. As emanações-conversões dos níveis sucessivos são substituídas pela coexistência de dois movimentos na imanência, a complicação e a explicação, nas quais Deus "complica todas as coisas" ao mesmo tempo que "cada coisa explica Deus". O múltiplo está no uno que o complica, assim como o uno está no múltiplo que o explica.


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