Na Web: Um iconoclasta panenteísta, por Maria Luísa Ribeiro Ferreira

"Note-se que a Substância/Deus não é causa transitiva, mas sim causa imanente das coisas, visto que a essência delas é um conatus, um esforço para se manter no ser e o aperfeiçoarem. Todo o conatus é manifestação da potentia divina, integra-se nela e com ela mantém uma relação vertical. Com os outros modos o relacionamento é transitivo: “Deus é causa imanente mas não transitiva de todas as coisas” (Ética I, prop. XVIII).

Por tudo isso nos parece mais correto preterir o termo panteísmo quando aplicado a Spinoza, usando para classificar a sua ontologia a designação de panenteísta. Krause, um filósofo alemão dos séculos XVIII e XIX, vulgarizou o panenteísmo identificando-o com a presença das coisas em Deus. A tese que Deus está em tudo é por ele substituída pela defesa de que tudo está em Deus. 

Os vocábulos panteísmo e panenteísmo não fazem parte do léxico Spinozano. Contudo, sustentar que os modos têm como causa primeira Deus, ao qual devem o ser e o existir, é algo que convém a Spinoza. O que não acontece com a afirmação de que as coisas são divinas. 

Esta distinção entre Deus/Natureza e as coisas naturais leva a que demarquemos o conceito de Natureza da definição comum da mesma que a identifica habitualmente com o mundo, dando relevo à sua dimensão física. Na verdade, a Natureza spinozana não corresponde ao mundo. Muito mais ampla do que este, engloba tudo aquilo que existe, seja de índole material seja de cariz espiritual. Nela estão contidos homens, animais, plantas, rios, montanhas, mas de igual modo inclui ideias, percepções, afetos, almas. Todas essas realidades são expressão de Deus, um Deus quatenus, um Deus “enquanto que”, um Deus modificado, o que é diferente de um Deus em si mesmo".

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