Arquivo para download: Reich em "O anti-Édipo", por Luiz B. L. Orlandi

O objetivo desta comunicação é tão-somente salientar as explícitas referências feitas a Wilhelm Reich (1897-1957) encontradas em O Anti-Édipo [1], obra publicada em 1972. Embora não seja o caso de explicitar cuidadosamente os conceitos envolvidos nessas referências, procurarei destacá-las tendo em vista o papel que elas desempenham em certas linhas da problemática própria desse livro.

Que problemática é essa? O título resumido desse livro – O Anti-Édipo – tem o inconveniente de sombrear uma coisa importante: ele obscurece a inserção do livro numa alongada e complexa série de textos, série dita Capitalismo e esquizofrenia, da qual participam também Mil platôs, de 1980, e O que é a filosofia?, de 1991. Além disso, esse resumido título – O Anti-Édipo -- facilita a redução do sentido da obra a uma simples oposição a certo modelo gerado na psicanálise. Para afastar essa primeira impressão de sombreado e de reducionismo, é preciso ir ao encontro daquilo que é positivamente afirmado nessa obra, é preciso pensar a expressão anti-Édipo como se estivéssemos viajando ao longo de um criativo rompimento com a tradição que maltratou o desejo, que o manteve prisioneiro da falta, por exemplo. A atmosfera do livro é a de uma nova problemática que se impõe ao pensamento mais acordado do século XX, pensamento que é, paradoxalmente, aquele que mais desconfia de si próprio, pensamento que se sabe infestado por um impensável que o fustiga, mas que também pode deixá-lo apenas abobalhado. A audácia do livro, portanto sua contribuição para essa problemática, consiste em libertar o desejo daquelas representações, concepções, modelos etc. que atrapalham pensar o próprio desejo como sendo o impensável do pensamento representativo, o impensável a ser pensado, mas por uma nova maneira de pensar, o que implica, portanto, o advento de uma nova imagem do pensamento. É a essa ousadia que O Anti-Édipo se dedica. Ele o faz, postulando a necessidade de praticar o aprendizado do desejo, isto é, no caso desse livro, a necessidade da atenção imanente a um funcionamento desejoso libertado de Édipo. 

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