Arquivo para download: Sobre o capitalismo e o desejo (entrevista com Deleuze e Guattari em 1973)

Em qualquer sistema social houve sempre linhas de fuga; e também endurecimentos para impedir essas fugas, ou então (o que não é a mesma coisa) aparelhos ainda embrionários que as integram, que as desviam, as detêm, num novo sistema em preparação. Seria preciso analisar as Cruzadas sob este ponto de vista. Mas no que respeita a tudo isto, o capitalismo tem um caráter muito particular: as suas linhas de fuga não são apenas dificuldades que lhe sobrevêm, são condições do seu exercício. Ele constitui-se sobre uma descodificação generalizada de todos os fluxos, fluxos de riqueza, fluxos de trabalho, fluxos de linguagem, fluxos de arte etc. Não refez um código, constitui uma espécie de contabilidade, de axiomática de fluxos descodificados, na base da sua economia. Ele liga os pontos de fuga e distribui antecipadamente. Alarga sempre os seus próprios limites, e tem sempre de colmatar as novas fugas em novos limites. Nenhum dos seus problemas fundamentais ele resolveu, não consegue sequer prever o aumento anual da massa monetária de um país. Não para de transpor os seus limites que tornam a aparecer mais longe. Coloca-se em situações assombrosas em relação à sua própria produção, à sua vida social, demografia, periferia (o terceiro mundo), às suas regiões interiores etc. Há fugas por todo lado, que renascem sempre dos limites deslocados do capitalismo. Sem dúvida, a fuga revolucionária (a fuga ativa, aquela de que fala Jackson quando diz: “não paro de fugir, mas ao fugir procuro uma arma...”) não é de modo algum a mesma coisa que outros gêneros de fuga, a fuga esquizo, a fuga tóxica. Mas trata-se de fato do problema das marginalidades: fazer com que todas as linhas de fuga se liguem num plano revolucionário. No capitalismo, portanto, há um caráter novo assumido pelas linhas de fuga, e também potencialidades revolucionárias de um tipo novo. Como vê, há esperança.

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