Arquivo para download: Deleuze & Guattari: linguagem e devir, por Felipe Bó Huthmacher
Capítulo 3 da dissertação "A linguagem entre o devir e a alienação".
Voltemos
então ao final dos anos 1960; mais precisamente, 1969. Deleuze
publica a sua Lógica do sentido, Guattari o utiliza para apresentar
as suas máquinas em “Máquina e estrutura”, e Lacan segue à
frente do seu seminário semanal. Mas algo não vai bem: o esforço
de Lacan em silenciar o ruído da maquinaria de Guattari é minado
pela crescente troca de ideias entre o seu discípulo renegado e
Deleuze – cujas teses de 1968 e 1969, como vimos, foram muito bem
recebidas por Lacan. Quando fica sabendo que os dois estão
envolvidos em um projeto de texto sobre a psicanálise, Lacan convida
Guattari para jantar em um grande restaurante às margens do rio Sena
para que ele lhe explique o conteúdo desse livro misterioso – vale
lembrar que os dois haviam se afastado depois do episódio da não
publicação de “Máquina e estrutura”.
Lacan
pede para ter acesso ao manuscrito. “Evidentemente, isso estava
fora de questão! Deleuze desconfiava de Lacan como da peste”
(Guattari, apud Dosse, 2007/2010, p.158). Lacan insiste; quer saber
do que se trata. “Eu me atrapalho fazendo referência a uma fórmula
sacrossanta do lacanismo e me safo como posso. Sinto calor e não
tenho muito apetite. Desenvolvo tudo o que me passa pela cabeça de
antropologia e de economia política” (Guattari, apud Dosse,
2007/2010, p.158). Quando Lacan toma conhecimento da misteriosa obra
em questão, o explosivo O Anti-Édipo, de 1972, os vínculos entre
os dois serão definitivamente rompidos. Deleuze, a quem Lacan
estimava e com quem por essa mesma época havia tentado uma
reaproximação, é igualmente banido do círculo de influência do
movimento lacaniano.
Comentários